- Pratique exercícios
Que fazer exercício é bom pra
saúde do corpo, isso ninguém duvida. Já sabemos também faz tempo que a
fabricação de endorfinas acontece durante as atividades físicas, e que estas
são responsáveis por bem-estar e sensação de prazer. Ok, e a mente, onde entra?
A distinção mente-corpo é
puramente didática. Sabemos que os circuitos cerebrais comandam boa parte de
nossa regulação emocional, e em se tratando da ansiedade, que como já descrito
aqui é parte de um processo psicofisiológico, essa distinção é mais teórica do
que nunca.
Corpo são, mente sã. A
importância das atividades físicas para o equilíbrio emocional vai muito além
do ditado popular: a prática de exercícios proporciona o gasto de uma energia corporal
que, quando não dissipada, pode trazer tensão e agitação mental. O exercício
físico, especialmente o aeróbico, funciona como uma espécie de descarga ou válvula
de escape, tendo sido comprovado por vários estudos como eficiente na redução
dos sintomas de ansiedade.
Esse efeito parece ser
especialmente eficaz em casos de Transtorno de Pânico, uma vez que a alta sensibilidade
e a percepção errônea do indivíduo quanto aos próprios sinais corporais é a
principal responsável por deflagrar a crise; assim, o fato destes sinais
corporais serem semelhantes aos que são observados durante a prática de
exercícios (aumento de pressão arterial, taquicardia, contração muscular etc),
e do indivíduo ir se acostumando a senti-los em contexto diferente ao contexto
ansioso já efetua a dessensibilização, ou aumento da tolerância e ajuste da
percepção sobre estes mesmos sinais.
Entretanto, devido ao mesmo
motivo, quem sofre de ansiedade pode ter, justamente, mais resistência a
praticar exercícios – por associarem as sensações aversivas aos sinais
corporais, a princípio a atividade física pode parecer bastante difícil de ser
mantida. Ainda assim, é de consenso na comunidade científica de que os efeitos
da prática de atividades físicas são extremamente benéficos a curto, médio e
longo prazo.
2. Durma bem
2. Durma bem
O período de sono é uma das
necessidades mais básicas do ser humano, e não é à toa. Enquanto dormimos,
nossas atividades cerebrais se rebaixam a um nível mínimo, e é durante este
período que boa parte de nossas memórias são processadas, o que está
diretamente ligado à aprendizagem e aquisição de conteúdos novos.
Enquanto dormimos, o cérebro se
reestabelece. Os músculos descansam, as estruturas se reorganizam. Esse grande
computador que trabalha 24 horas por dia durante mais de 70 anos (em média)
também precisa ser “desligado” e “recarregado” durante algum tempo, tal como fazemos
com nossos PCs. Os arquivos mentais precisam ser organizados, as memórias do
dia e os novos conteúdos precisam ser integrados ao “arquivo central”. E tal
como um computador, o que acontece se não o desligamos durante muito tempo, ou
não recarregamos?
A máquina “trava”. A bateria
acaba. Os programas não rodam direito. Da mesma forma, nosso cérebro começa a
travar, e vários estudos já apontam que esse mau-funcionamento conduz à
ansiedade e depressão.
De fato, alguns destes estudos
reafirmam que a necessidade média é de 8 horas de sono por noite – o tempo
mínimo que o cérebro humano médio precisa para se recuperar. Com menos do que
isso, as informações não se processam direito, os circuitos cerebrais não têm
tempo de se organizar, e o funcionamento mental fica comprometido, aumentando a
chance de problemas de concentração, memória e aprendizagem. Os níveis de
atenção caem e o desempenho motor também fica prejudicado.
Como um dos sintomas de ansiedade
é, comumente, a própria insônia, são justamente as pessoas que mais têm
dificuldade de dormir as que mais precisam regular seu sono. Assim,
recomenda-se que comecemos a nos preparar para dormir algumas horas antes do
horário planejado: diminuindo o ritmo de nossas atividades, ingerindo alimentos
leves e praticando as recomendações do que é hoje chamada Higiene do Sono: hábitos saudáveis do bem-dormir.
3. Evite estimulantes
3. Evite estimulantes
Sabemos que a ansiedade é um estado
físico e emocional marcado pela hiperexcitação, agitação e elevação da maior
parte dos sinais corporais (respiração, batimentos cardíacos, pressão arterial
etc). O ansioso é um indivíduo que permanece, na maior parte do tempo, num
estado de excitação mental e física desagradáveis.
As substâncias que consumimos
agem sobre nosso organismo e os modifica, bem como são por ele modificados.
Algumas, mais especificamente, exercem um poder estimulante sobre o cérebro,
alterando “quantitativamente” a qualidade do nosso funcionamento global. Sobre
o organismo de um ansioso, isso equivale a “colocar lenha na fogueira”, sendo a
fogueira aquela que está justamente tentando ser controlada.
No rol dessas substâncias está o
café, os chás que levam mate (ricos em cafeína), os cigarros, os refrigerantes
à base de cola, as pimentas e especiarias, o gengibre e – PASME – o chocolate,
que contem cafeína. Além disso, as bebidas estimulantes (“Red Bull”, “Flash
Power” etc) contém também cafeína e guaraná, e exercem efeito estimulante no
organismo até várias horas depois de seu consumo.
Sendo assim, a pessoa que sofre
de ansiedade – e que, portanto, já está com o organismo excitado – deve evitar
estas substâncias, e investir naquelas que promovem o relaxamento e o bem-estar,
como a camomila, os alimentos ricos em vitamina C e em complexo B, além dos
peixes e as folhas do maracujá (sim, é nas folhas que está todo o seu poder
calmante).
4. Respire direito
4. Respire direito
Neste texto aqui eu indiquei
algumas técnicas respiratórias bastante simples para os ansiosos de plantão. De
fato, a respiração é a aliada número 1 de quem sofre de ansiedade, pois possui
uma influência enorme nos ritmos fisiológicos e interfere diretamente no ritmo
cardíaco.
Quando estamos ansiosos, nossa
respiração reflete isso: respiramos “curtinho”, a famosa respiração “cachorrinho”.
Respirar assim causa hiper-ventilação, o que agrava ainda mais os sintomas de
ansiedade. Logo, a solução é fazer o contrário: respirar devagar e
profundamente, de preferência pela parte baixa do ventre (respiração
diafragmática), dando ênfase a expirar pela boca, bem devagar (é de fato a
expiração que promove o relaxamento).
No nosso cotidiano, respiramos no
“automático”, e muitas vezes não percebemos o quanto estamos provocando uma
reação negativa em nosso organismo. Estar atento à respiração é uma das
premissas básicas de quem deseja manter a ansiedade sobre controle, e treinos
diários de respiração profunda e prolongada fazem parte de TODOS os protocolos
de tratamento a Transtornos Ansiosos.
Apesar disso, quem não sofre de
ansiedade patológica também pode (e deve!) investir em uma respiração mais
saudável e concentrada, de forma a garantir maior qualidade de vida: a
respiração adequada é defendida há muitos e muitos anos pelos praticantes de
yoga que, por sinal, tem sido comprovada como eficaz no tratamento à ansiedade
e depressão.
Praticar a respiração
diafragmática todos os dias, 3 vezes por dia, com 15 repetições a cada vez, é
um ótimo começo. Você pode fazer em qualquer lugar: no banho, no trânsito, no
escritório. A concentração na respiração promove também uma “trégua” à mente,
uma vez que com ela ocupada por estar concentrada na respiração, o fluxo mental
e a cadeia de pensamentos diminui.
5. Exercite o silêncio
5. Exercite o silêncio
Por falar em trégua na mente... quando
foi a última vez que você ficou em silêncio, sem fazer nada, apenas percebendo
seus pensamentos e sensações?
Quem é ansioso sabe bem que tem
momentos em que o fluxo mental se acelera, se avoluma, e os pensamentos ficam
como um turbilhão. A excitação mental supracitada é verificada também no
funcionamento cognitivo, quando um volume cada vez maior de pensamentos (normalmente
negativos) invade a mente. Preocupações, organizações mentais, previsões
negativas – todos estes conteúdos típicos de uma mente ansiosa ficam ali
rodando e causando ainda mais aflição e ansiedade. E nós vamos rodando junto,
totalmente absorvidos por este fluxo incessante de ideias.
Parar e observar estes
pensamentos, sem tentar exercer nenhuma influência sobre eles, é uma forma de
combater a ansiedade. Como se nos distanciássemos da questão e observássemos,
como numa tela de cinema, tudo o que pensamos como se não fosse nosso. Uma
forma de meditação em que tudo o que precisamos fazer é NADA. Apenas observar.
Silenciar e se observar tem sido
uma forma comprovadamente eficaz de tratar a ansiedade de maneira geral, e
recentes modalidades psicoterápicas têm se debruçado sobre estas novas formas
de controle mental. Treinos em Mindfullness
se dedicam justamente a isso: acolher e gerenciar os pensamentos que nos
inundam sem desespero, sem preocupação e sem nos identificarmos com eles.
Você pode experimentar fazer isso
todos os dias, por pelo menos 5 minutos. Apenas feche os olhos e perceba o que
está passando pela sua cabeça. Não julgue, não rejeite, não entre no assunto:
apenas observe os pensamentos surgirem e desaparecerem como pequenas ondas no
oceano – uma vem, depois se vai, outra se forma e ocupa seu lugar.
Apenas observe. Com o tempo você
desejará fazer isso mais vezes, como em um intervalo entre reuniões
estressantes por exemplo. Você pode aumentar o tempo, ou aliar a esta prática
seu treino diário de respiração, desfrutando totalmente desse momento de “pausa
interna”.
4 comentários:
Sou um admirador seu.
Posso postar no website de meu serviço de neuropsiquiatria este seu artigo sobre ansiedade (claro que indicando a fonte)
www.ineups.com.br
Grato
Olá Carlos!
Obrigada pelo comentário, claro que pode republicar!
Quanto mais pessoas se beneficiarem, melhor!
Um abraço,
Ana
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