quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O QUE É ANSIEDADE?



Uma definição literal diria que a ansiedade é um processo fisiológico natural, selecionado naturalmente através da evolução humana e marcado por reações físicas específicas, que permite ao indivíduo preparar-se para apresentar comportamentos adaptativos frente a situações ameaçadoras, especialmente no que se refere à sua sobrevivência.
Num aspecto mais subjetivo, e mesmo patológico, o termo “ansiedade” refere-se a um estado emocional de aflição e medo, no qual o indivíduo sente-se vulnerável em relação a diversas expectativas, em geral bastante negativas.
Vamos destrinchar, parte por parte, os conceitos supracitados.

A ansiedade é um processo fisiológico natural
Dizer que a ansiedade é “natural” significa dizer que ela está em nossa genética, ou seja, é uma resposta normal do organismo humano, e por isso, sintomas físicos normalmente estão presentes.


Todos os indivíduos ficam ansiosos em algum momento de suas vidas, pois esta é a resposta espontânea do organismo diante de situações ameaçadoras.
Em última análise, isso significa que a ansiedade em si não é um problema – a ansiedade só se torna patológica quando é experienciada de maneira desproporcional, causando sofrimento intenso, ou mesmo crônico, ao indivíduo.

A ansiedade foi selecionada naturalmente
Diversas características humanas que eram observadas nos nossos antepassados ancestrais continuam presentes no organismo do humano “moderno”. Estas características, que podem ser chamadas de filogenéticas, são transmitidas por meio da carga genética, ou DNA. Assim é com nosso sistema imunológico, nossa acuidade visual, nossa estrutura óssea, nosso funcionamento cardíaco, bem como muitas outras características.
No tempo das cavernas, o homem possuidor de características favoráveis à sua sobrevivência tinha mais chances de reproduzir e gerar prole saudável. Indivíduos com mal-formações tinham menos chances de manterem-se vivos ou de reproduzir. Poderíamos, a título de exemplo, imaginar um homem infértil nesta época: ele não poderia procriar, e portanto seus genes não seriam passados para seus filhos.
Portanto, a seleção natural é o processo essencial através do qual se dá a evolução humana – bons genes têm mais chances de serem repassados na reprodução, maus genes tendem a se extinguir, já que seu portador tem poucas chances de sobrevivência.
Assim ocorre com a ansiedade: sendo uma resposta natural frente a situações de risco, indivíduos bem preparados para lutar ou fugir (imagine um homem das cavernas diante de um leão ou outra fera perigosa), tinham mais chances de sobreviver, e de conseqüentemente transmitir esses genes à sua prole.
Na atualidade, não encontramos leões com freqüência, mas muitas outras situações podem ser geradoras de ansiedade, por serem percebidas como potencialmente perigosas: um assalto, um acidente, uma violência física, etc.


No plano subjetivo, essa percepção de ameaça não se restringe à sobrevivência física – uma bronca do chefe, por exemplo, pode ser percebida como uma situação de ameaça, pois as conseqüências de tal evento podem ser ruins (perder o emprego, por exemplo, é potencialmente ameaçador para a sobrevivência deste indivíduo, e gera estresse físico e mental).
Grosso modo, podemos dizer que um indivíduo de funcionamento normal experimentará ansiedade em um momento ou outro de sua vida em que haja a percepção de ameaça, seja ela física, seja ela emocional. Isso pois está geneticamente programado para reagir assim . Retire a ansiedade da carga genética de um ser humano e ele provavelmente morrerá em seus primeiros anos de vida, pois não buscará alimento quando sentir fome, não se protegerá de perigos físicos e não terá a resposta natural adequada à sua sobrevivência.

A ansiedade é marcada por reações físicas específicas
Imaginemos novamente nosso homem das cavernas frente ao leão. Seu corpo compreende que será necessário lutar ou fugir – seus batimentos cardíacos se elevam, a respiração se torna ofegante, e os músculos contraem-se preparando-se para entrar em ação.
Esta descrição assemelha-se muito a como nos sentimos diante de ameaças atuais – quem já foi assaltado lembra-se claramente da taquicardia sentida, do frio no estômago, do tremor nas mãos e da sensação de perigo iminente.
De fato, algumas sensações físicas fazem parte deste quadro que chamamos ansiedade, e todas elas destinam-se, em última análise, para preparar o corpo para enfrentar a situação de ameaça.

A ansiedade permite ao indivíduo preparar-se para apresentar comportamentos adaptativos frente a situações ameaçadoras
Quando uma pessoa se vê diante de uma situação perigosa à sua sobrevivência (física ou mental), ela tende a buscar soluções. Por exemplo, um indivíduo que percebe estar ocorrendo um incêndio em sua casa procurará, rapidamente, por uma saída ou meio de sobreviver.
Caso este indivíduo fosse desprovido desta percepção de perigo, estaria ele vulnerável a diversos tipos de ameaça freqüentes nos nosso dia-a-dia – atravessar uma rua movimentada, andar cuidadosamente por uma floresta, conversar delicadamente com o chefe.
A ansiedade nos permite responder de maneira cuidadosa a estas situações, garantindo nossa sobrevivência e nosso conforto físico e mental.

O indivíduo ansioso sente-se vulnerável em relação a  expectativas bastante negativas
Assim como nosso homem das cavernas percebeu o perigo de encontrar um leão em frente à sua casa, a percepção de perigo é o que imediatamente antecede a ansiedade. A expectativa em relação ao que irá acontecer costuma ser negativa e, em geral, catastrófica.


Um pessoa que é chamada para conversar com o chefe, por exemplo, pode ficar bastante ansiosa com a expectativa de que será demitido, por exemplo. Outra pessoa poderá pensar que receberá uma promoção, e assim não se sentirá ansioso.
Portanto, a idéia do que irá ocorrer determina fortemente as sensações experienciadas, incluindo ansiedade, medo, tristeza, etc.

QUANDO A ANSIEDADE SE TORNA PATOLÓGICA?
A ansiedade torna-se um problema quando ocorre diante de situações que não representam um perigo iminente, ou quando está sendo sentida de maneira desproporcional à situação.
Os Transtornos Ansiosos caracterizam-se pelo sofrimento contínuo de uma sensação de aflição, medo e desconforto, mesmo quando tudo está aparentemente seguro e tranqüilo.
Um Transtorno Ansioso pode se desenvolver quando os sinais da ansiedade (taquicardia, tontura, tensão muscular, tremor, falta de ar) ocorrem com freqüência e tornam-se, por si só, uma fonte primária de preocupação. Assim é no Transtorno de Pânico, por exemplo, quando o indivíduo sente-se constantemente sob risco de vida, tendo uma preocupação profunda com a morte iminente, causada pela própria percepção dos sintomas físicos.

POR QUE DESENVOLVEMOS TRANSTORNOS ANSIOSOS?
Ainda não está plenamente explicado pela ciência o porquê de um indivíduo desenvolver um Transtorno Ansioso e outro, não. Uma vez que a ansiedade é uma resposta natural do organismo, é somente na cronificação do problema que é possível perceber o que leva uma pessoa a se tornar patologicamente ansiosa.
Entretanto, muitas pesquisas têm revelado que existe um fator cognitivo importante, como a pré-disposição a interpretar e prever situações como ameaçadoras ou até letais.
Por cognitivo, entende-se o funcionamento básico de percepção-interpretação das situações. Por exemplo, uma pessoa que está caminhando numa rua escura pode perceber a presença de uma pessoa, e interpretar a situação como um assalto, ou tentativa de violência. É basicamente esta interpretação, cognitiva, que gerará a ansiedade.
Questões relativas à personalidade estão geralmente presentes – indivíduos mais nervosos, impacientes e intolerantes tendem a apresentar mais Transtornos Ansiosos do que outros que sejam mais calmos, pacientes e adaptáveis.
Em última análise, aceita-se que a ansiedade patológica é algo aprendido, ou seja, não é inata. Desenvolve-se através de modelos e experiências significativas, instalando-se de maneira generalizada ou então bastante específica (como nas Fobias Específicas).
Grosso modo, pode-se dizer que a reação de ansiedade aparece diante de um estímulo aversivo, e o Transtorno Ansioso generaliza-se e expande-se para situações diversas.

ANSIEDADE TEM CURA?
Como já foi dito anteriormente, a ansiedade é uma característica genética fundamental à nossa sobrevivência, e como tal, não pode ser separada da existência humana.
Isso significa que a ansiedade não tem cura, pois não é, em si, um problema.
Entretanto, a ansiedade patológica pode ser tratada e o indivíduo pode retomar o seu funcionamento normal, sem que a ansiedade ofereça sofrimento extremo.

QUAL O TRATAMENTO MAIS EFICAZ PARA ANSIEDADE?
As pesquisas mais recentes têm demonstrado que a ansiedade patológica é perfeitamente tratável, desde que sob procedimentos específicos quem vêm sendo cientificamente comprovados.
Atualmente, a Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) tem se revelado uma modalidade eficaz de psicoterapia, levando a altos índices de sucesso no tratamento dos Transtornos Ansiosos. O uso de medicamentos pode ser indicado, e estudos revelam que a combinação de TCC e medicamentos produz resultados mais estáveis e duradouros.


A TCC proverá uma ação ampla sobre a ansiedade patológica, tanto em relação aos sintomas físicos (promovendo auto-monitoração e controle de reações físicas desagradáveis) quanto em relação à parte cognitiva, agindo sobre o funcionamento percepção-interpretação e levando a maneiras mais adaptativas de compreender as situações vividas.
Exercícios de respiração, controle corporal, relaxamento, e também exercícios cognitivos de auto-análise e reestruturação cognitiva são técnicas reconhecidas pela Medicina e Psicologia, e são as ferramentas básicas da TCC aplicada aos Transtornos Ansiosos.