Muitas pessoas ficam em dúvida quanto às suas reais
necessidades de iniciar um processo terapêutico. Esse “dilema” existe, em parte
porque a imagem da terapia está muito associada à do sofrimento intenso, da
depressão e da angústia, levando as pessoas a pensarem que, para se fazer
terapia, é preciso estar “mal”.
E embora seja a realidade da maior parte das pessoas que
procuram um consultório de Psicologia, este não é o único cenário que existe e
nem é preciso estar deprimido para buscar ajuda; pelo contrário, podemos
afirmar que, quando a depressão e outras patologias se instalam, existia seguramente
uma situação prévia de sofrimento que, fosse bem cuidada, não evoluiria para um
quadro de adoecimento emocional.
Isso significa, grosso modo, que quanto antes uma pessoa
busca ajuda, menores são as chances de desenvolver uma patologia psíquica.
Neste ponto, a psicoterapia pode ser, basicamente, preventiva.
Entretanto, a maior parcela da população procura ajuda,
realmente, quando as coisas não vão bem. Mas quão “mal” é preciso estar para
pedir ajuda? E no que pode auxiliar um psicólogo?
Todos temos, em nossas vidas, momentos de crise. Além de
naturais, eles são necessários para o ser humano se desenvolver e crescer,
evoluindo como um todo. Através das crises, desenvolvemos habilidades anteriormente
inexistentes – como uma criança que, aprendendo a andar, descobre através da
queda que é necessária maior firmeza nos pés ou maior retidão no tronco.
Através de suas dificuldades, ela vai ganhando novo referencial e,
conscientemente ou não, vai estruturando novas maneiras de ser e atuar no
mundo.
As crises são, portanto, parte indispensável da existência
humana. Assim é o sofrimento que geralmente a acompanha. Ao perdermos alguém,
choramos, entristecemos – absolutamente normal. O luto, a tristeza, a angústia,
são partes inerentes à vida humana, e dificilmente podemos deles fugir. Entretanto,
quando estes assumem um tamanho desproporcional à dimensão da situação de
crise, causando um sofrimento contínuo, prolongado e intenso, esta é a hora de
pensar em pedir ajuda.
É esperado que o indivíduo enfrente um período de crise e
que, após algum tempo, um novo equilíbrio se reestabeleça. Quando esta nova
homeostase não é atingida, pode haver um quadro de adoecimento psicológico e, portanto,
necessidade de terapia, que assume um formato de tratamento - com método, objetivos e tempo específicos e
pré-determinados. Se uma pessoa perde um ente querido, por exemplo, é natural
que sinta esta perda e que, pelo menos durante algum tempo, fique
emocionalmente fragilizada e entristecida. Entretanto, se após um longo período
de tempo esta pessoa ainda está paralisada diante da dor, tendo seu
funcionamento global prejudicado (trabalho, vida amorosa, vida social etc),
este é um indício de que as habilidades pessoais internas já não são
suficientes para enfrentar, organizar e superar a dificuldade vivenciada,
podendo então estar configurada uma depressão ou um luto patológico, por
exemplo.
Da mesma forma, outras situações menos dramáticas podem
levar alguém a sentir necessidade de buscar psicoterapia. É comum que uma
pessoa se veja repetidamente diante do mesmo tipo de dificuldade ou que
experimente o mesmo tipo de problema com maior frequência do que seria desejado,
ou que diante de uma situação problemática tenha muita dificuldade em tomar
decisões ou adotar determinadas condutas, ou ainda que se veja em dilemas
frequentes e decorrentes conflitos intra/interpessoais por conta disso.
Neste sentido, o terapeuta é alguém alheio à situação, e
que, portanto, goza de maior neutralidade e objetividade na identificação e
solução de um problema. Ele atua como um “técnico”
que ajuda o agora paciente na compreensão de si mesmo, seus comportamentos e
sentimentos. Ele também pode ter à disposição ferramentas terapêuticas que são
incomuns ao cotidiano de vida de um indivíduo, e técnicas psicoterápicas
eficientes na conduta de uma situação de dificuldade.
Dependendo da abordagem terapêutica (“linha”), o processo
psicoterápico assume diferentes formatos e objetiva diferentes fins. Tratar uma
depressão, controlar um quadro de ansiedade, lidar com um divórcio, enfrentar
uma perda, adotar novas condutas no dia-a-dia, aumentar o desempenho
profissional, adquirir mais organização diária, perder peso: toda demanda por
mudança é uma demanda terapêutica, seja ela comportamental, cognitiva ou
emocional.
Muitas pessoas chegam à terapia com problemas bastante
específicos, e quando estes se resolvem, percebem que outras questões surgiram
enquanto isso. Estas questões podem se tornar novos focos de trabalho, se forem
consideradas importantes o bastante para serem analisadas junto ao psicólogo.
Outras vezes, nenhuma questão parece relevante o bastante, e o indivíduo pode
decidir, juntamente ao terapeuta, por finalizar o processo.
Há vezes, também, que o indivíduo adquire “gosto” pela
psicoterapia – sente que se beneficia da mesma ainda que não existam “problemas”
a serem tratados. A terapia funciona, assim, como um processo de “higiene
mental”, em que os conteúdos diários são verificados e analisados com
determinada frequência, como uma espécie de revisão (semanal, quinzenal,
mensal) em que o paciente tem a possibilidade de reavaliar suas condutas e
possivelmente identificar novas oportunidades de evolução. Nesse sentido, a
terapia assume um caráter de manutenção
da saúde mental.
Em resumo, fica claro que não é preciso estar “mal” para
fazer terapia, e sim que exista algum tipo (qualquer tipo) de demanda, nem que
seja a demanda de organizar os próprios pensamentos ao conversar com o
terapeuta. Sob este ponto de vista, pode-se fazer terapia pelos mais diferentes
motivos, desde que esteja implícito, nestes, o desejo ou a necessidade de
mudanças.
Conversar com quem já faz psicoterapia pode ser útil na hora
de decidir-se por adotar o processo psicoterápico, e buscar indicações de
diferentes profissionais pode ajudar a decidir-se pela abordagem mais eficiente
a seguir. O mais importante que é que a pessoa que procura terapia o faça por
vontade própria, estando motivada e decidida pela mudança.